Aula Especial de Antropologia Médica e Práticas Integrativas em Saúde

Intitulado “Saberes e práticas nos modos de cuidar”, o encontro contou com convidados especiais e alunos e alunas dos cursos de Nutrição, Psicologia e Farmácia.
1 de junho de 2020

A tarde do último sábado, 30, marcou o encerramento dos conteúdos das matérias lecionadas pela profa. Dra. Abda Medeiros, a saber: Antropologia Médica para os cursos de Nutrição, Psicologia e Farmácia e teve a participação das alunas e dos alunos do 9º semestre do Curso de Farmácia em Práticas Integrativas em Saúde. Intitulado “Saberes e práticas nos modos de cuidar”, o grande encontro contou com a participação da psicóloga indígena da etnia Macuxi (fronteira Brasil/Venezuela) Iterniza Pereira, a comunicóloga, socióloga e pesquisadora Dra. Vângela Morais (UFRR), a profa. Ma. Paloma Melo do Curso de Nutrição, o prof. e coordenador do Curso de Psicologia Me. José Pereira Maia Neto e a profa. Dra. Anielle Melo do Curso de Farmácia. O Diretor Geral da FVJ, Antonio Henrique Dummar Antero, conforme anunciado, não pode participar conosco.

A curiosidade, expectativa e participação das alunas e dos alunos se mantiveram durante os relatos apresentados por Iterniza e Vângela. A primeira descreveu a trajetória de vida como indígena Macuxi, as adversidades para adentrar à Universidade e a alegria de ser contratada pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), como a primeira psicóloga dedicada às lutas pelos direitos dos povos originários e, neste momento, atuando nas barreiras sanitárias no enfrentamento à COVID-19. Vale ressaltar, o trabalho de monografia defendido em 2019 sobre o suicídio entre os povos indígenas, temática pouco desenvolvida cientificamente e com argumentos que nem sempre se alinham às explicações ocidentais sobre esse fenômeno cultural e psíquico.

Já no caso da profa. Dra. Vângela Morais, autora do livro “Filhos de Deus e Netos de Makunaima: apropriações do catolicismo em terras macuxi”, a fala foi pautada pelas imersões no trabalho de campo na comunidade Maturuca onde nasceu e cresceu Iterniza, localizada na Terra Raposa do Sol, fronteira do Brasil com a Venezuela. Os processos de ressignificação no campo da espiritualidade e da religião são descritos pela referida professora como indissociáveis aos modos de pensar, sentir e agir dessa etnia que tem na força de Deus, do seu mito fundador Makunaima e nos papéis exercidos pelos líderes indígenas, os “bálsamos medicinais” cuja eficácia simbólica e prática sistematizam a vida na ausência do Estado e da violação dos direitos desses seres humanos.

Sob a perspectiva da profa. Paloma Melo, o importante é pautar os alimentos característicos do povo Macuxi como, por exemplo, a mandioca, o caxiri, a damorida etc como formas de conexão social, licenças concedidas pelos deuses e o meio ambiente. Para o prof. Maia Neto, a representatividade de uma indígena psicóloga é significativa no pensar a Psicologia Brasileira por meio dos elementos caracterizadores do país, bem como o impacto sobre os conselhos federal e estadual da profissão que são provocados a reverem seus protocolos de aceitação do nome indígena na carteira profissional, por exemplo, o respeito à diversidade e às lideranças étnicas. Já na visão da profa. Anielle, os tratamentos medicamentosos naturais ou não, despertam a atenção para lógicas de explicação da saúde e da doença para além do tecnicismo, o que nos permite pensar que os macuxi não flertam com o negacionismo científico ou uma ciência positivista cujos referenciais não se alinham às estruturas perspectivas e performativas desses povos originários.

Para as alunas e os alunos que participaram falando ou interagindo pelo bate-papo da plataforma utilizada, a aproximação entre o “eu” e o “outro” é importante para entender a vida pautada na diferença e na diversidade, inspirando-se em exemplos de lutas que nos enriquecem e nos levam para frente. O que temos é uma ciência do concreto, parafraseando o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, onde os animais, vegetais e indivíduos são úteis não porque são conhecidos e sim, são conhecidos e consequentemente se tornam úteis, do ponto de vista da explicação do mundo, da interpretação do viver e, principalmente, pela ressignificação que ultrapassa processos de dominação e expropriação de “tornar-se o que se é”. #SomosTodosFVJ

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