“Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?”
O sol já batia forte na manhã deste sábado, 25 de junho, quando o ônibus que partiu de Fortim às 6h15min, lotado de crianças que integram o Projeto Jaguar Esporte Clube, se aproximou do Estádio Alcides Santos, centro de treinamento do Fortaleza Esporte Clube – FEC. Acompanhadas(os) de suas mamães e papais, além da comissão técnica que integra o Jaguar, corria pelas veias o sangue que fervilhava em expectativas, o olhar curioso e atento diante do estádio e a emoção de olhar e dizer: “Fortaleza Esporte Clube!”
Na medida em que eu observava as crianças caminhando em fila para a entrada principal e sendo acolhidas pelos guias divertidos e generosos que trabalham no clube, esta que vos escreve assistia ao filme interior de que, quando criança, foi apresentada ao mundo da bola pelo saudoso pai. Enquanto eu me perdia nas memórias, uma amiga observou que uma das crianças se emocionou; outra gritou que estar ali era uma conquista. Euforia nos definia, na medida em que os dedos deslizavam pelos celulares que, a todo custo, pareciam capturar a imagem do dia, os afetos que se entrelaçam à razão, fazendo com que qualquer ordem que fosse dada tornasse difícil de ser escutada. As várias leoas e os múltiplos leõezinhos pareciam rugir, mas que, naquele momento, só queriam mesmo era a diversão e a corrida em bando, sem perder de vista a “presa” cobiçada: a bola.
Do alto da cabine principal do estádio, os jaguares observavam atentamente alguns atletas que treinavam no campo. Nem mesmo a sede ou o sol cada vez mais quente impediam o traquejo para que a hora de conhecer o campo chegasse; despertavam inúmeras perguntas dignas de um glossário e faziam do “pancadão” que ecoava da cabine de som a trilha mais do que perfeita sobre aquilo que se escuta quando o corpo observa, olha e tateia.
E lá fomos nós caminhar pelos setores e registrar as imagens dos cantinhos da memória de lutas e vitórias do clube que se autointitula “Clube da Garotada”. Uma breve parada para hidratar o corpo foi dispersada pelo vestiário, a academia de treinamento e o pedido rápido de uma foto com algum atleta que por lá transitava. Até que a parada no campo se tornou realidade. A bola da vez e a vez da bola fez do tapete verdinho um território mais do que conhecido, e sim, sonhado, domesticado e a ser batalhado.
O abraço acolhedor por parte de um dos goleiros, os usos da bola e a oportunidade de trocar movimentos com um dos preparadores de goleiros já transformara aquele lugar em um espaço íntimo e transbordante em alegria, traduzido inicialmente de forma oral para, em seguida, certamente, tornar-se parte das letras da narrativa de cada garoto, suas mamães, seus papais, da comissão técnica e, claro, mais um capítulo futebolístico para a minha trajetória.
Mas ainda faltava a surpresa, aquela que acelerou as batidas do coração e disparou a ansiedade: fazer uma foto com a mascote Stella e o Juba pertinhos dos últimos troféus conquistados pelo clube. Ao final, cada criança e adulto(a) recebeu a fotografia impressa, saída do clique de uma máquina para o fundo dos porta-retratos da lembrança e memória deste grande dia. O tempo-espaço quase não passou, mas o relógio já anunciava que era hora de retornar à estrada, guardando consigo as imagens da “floresta”, em pleno sábado de agitação em uma cidade grande, onde habita um leão que atende pelo nome de Fortaleza Esporte Clube.
Sob esse olhar, entende-se que o futebol está para além das quatro linhas. Por meio dele, fazemos um país, choramos, esmurramos as almofadas e extravasamos; ele é a expressão do que faz “o brasil, Brasil.” As quatro linhas é um desejo que se cruza às quatro estações e transborda em corpos trabalhados por meio dos treinamentos rigorosos, visando a performance quase perfeita. Fama, status, reconhecimento e dinheiro pululam na alma de garotos (e agora muito mais garotas) que encontram sentido em figuras como Pelé, Maradona, Garrincha, Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Yago Pikachú, Marcelo Boeck, Marta Silva, Miraildes Mota (Formiga) e outros artistas da vida na bola e a bola na vida. Significados do existir em um planeta redondinho chamado futebol.
Por fim, fechando essa nossa aventura comprometida, queremos agradecer ao Fortaleza Esporte Clube, na pessoa do Sr. Presidente Marcelo Paz e da amiga e megafacilitadora desta vivência Gleyce Torcedora do Leão (que levou os netinhos!); dos guias Tyago, Joaquim, “Magrão” e demais colaboradores(as) pela receptividade e alegria; ao Prefeito da cidade de Fortim, Sr. Naselmo Ferreira, e ao Secretário de Esporte, Juventude e Lazer Amadeu Félix por acreditarem no trabalho do Instituto Vale do Jaguaribe – IVJ e a UniJaguaribe, responsáveis pelo Projeto Jaguar Esporte Clube. Não podemos esquecer da coordenação do projeto: nosso profissional de Educação Física Lucas Romério e da Comissão Técnica Ozivan Ramos e Renan Silva, que cuidam e fazem parte desta trajetória educativa e lúdica na vida dessa garotada.
Abda Medeiros
Mulher no e do futebol, Antropóloga e Coordenadora de Projetos do Instituto Vale do Jaguaribe – IVJ